Mais living, menos quartos

Na contramão da oferta de compactos, novos lançamentos na capital oferecem imóveis de apenas um dormitório com plantas generosas para o convívio social

O mercado imobiliário de São Paulo tem sido inundado nos últimos anos por apartamentos compactos, não muito além de 40 metros quadrados, como resposta ao estímulo do Plano Diretor de 2014 — atualmente, em fase final de revisão — a esse tipo de produto.

Entre o início de 2018 e setembro de 2022, foram lançadas na capital paulista 60,7 mil unidades tipo estúdios com cerca de 30 metros quadrados. Em abril deste ano, foram ofertados 19,9 mil apartamentos novos de um dormitório — o equivalente a 26% do total, conforme dados da Secovi-SP.

De fato, esses pequenos notáveis têm feito sucesso junto a grande parte dos compradores de imóveis na cidade — mas eles não são exatamente uma unanimidade. Há um público cada vez maior, formado principalmente por solteiros e casais sem filhos, que tem buscado mais espaço para viver sem que isso signifique acrescentar quartos à planta.

“São pessoas que trocam o dormitório extra por uma sala mais generosa, varanda e cozinha amplas para receber amigos em casa”, analisa Lucas Tarabori, diretor Comercial da Nortis Incorporadora.

A empresa vendeu quase todas as unidades do Nord, empreendimento recém entregue no coração dos Jardins, cuja proposta é sob medida para esse perfil de consumidor. Com projeto do escritório norueguês Spol Architects, o residencial tem 50 apartamentos, metade deles com 80 metros quadrados e uma única suíte. No lazer, destacam-se a sauna e a piscina na cobertura com vista cinematográfica da região.

“Há arquitetos, designers e artistas entre os clientes, pessoas que buscam uma moradia espaçosa e valorizam o design arquitetônico autoral, mas não eram bem atendidas pelo mercado. Esse público está gerando demanda por esse tipo de imóvel, que pode se tornar um contraponto à tendência dos compactos”, analisa Tarabori.

A afirmação faz sentido! Outras regiões da cidade já começam a ganhar projetos com esse perfil diferenciado. Na Zona Sul da capital, o empreendimento Gardener Brooklin, da Bianchi Realty, conta com unidades de 90 metros quadrados e uma suíte. No badalado Itaim, a SDI Desenvolvimento Imobiliário e o fundo Tellus oferecem unidades de 95 metros quadrados e apenas um dormitório no JK Square Residence.

PERFIS SOCIAIS

Para Cyro Naufel, diretor Institucional da Lopes Consultoria de Imóveis, esse tipo de produto dá “match”, sobretudo com dois perfis sociais em franca expansão na sociedade brasileira: os divorciados e os casais sem filhos.

Pesquisas recentes reforçam a análise. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de divórcios no Brasil bateu recorde histórico em 2021: foram 386,8 mil registros, 16,8% acima do verificado um ano antes.

Já os arranjos familiares em que os parceiros optam por não ter herdeiros desenham uma curva nítida de crescimento: o percentual de casais sem filhos no país saiu de 12,1% em 1980, passou a 15,1% em 2010 e chegou a 19,9% em 2015.

“É um público muito específico, formado por solteiros mais maduros, sejam aqueles convictos ou os que acabaram de sair do casamento, e casais que optaram por não ter filhos ou que já não moram mais com eles”, define Naufel.

Em comum, são pessoas que têm apreço pelo convívio com amigos. “A despeito do estilo de vida ‘single’, eles não são ermitãos sociais, gostam de receber em casa e preferem menos quartos e living mais espaçoso, com mesa de oito lugares e cozinha para preparar grandes jantares”, resume o diretor.

Outro denominador comum entre eles é a predileção por viver o melhor que a cidade pode oferecer — o que significa não apenas acesso a mobilidade urbana e serviços essenciais, mas a restaurantes sofisticados e lojas de grife a poucos passos de casa.

Não por acaso, bairros como o Itaim, Jardim Paulista e Bela Vista estão no foco das incorporadoras para esse tipo de empreendimento. Na vizinhança do complexo de luxo Cidade Matarazzo, a Setin Incorporadora acaba de lançar na Bela Vista o Prado Paulista: uma torre única de 27 andares e 55 apartamentos de apenas uma suíte, com plantas entre 88 e 122 metros quadrados. Há, ainda, duas unidades especiais de 180 e 188 metros com “gardens” suspensos.“

O prédio ficará ao lado de alguns dos melhores restaurantes da cidade, do MASP e da própria Avenida Paulista, em uma das regiões mais consolidadas da capital”, explica Eduardo Pompeo, diretor de Novos Negócios e Incorporação da Setin.

Para ele, essas referências geográficas deverão atrair potenciais clientes de fora de São Paulo. “São pessoas que precisam ter endereço próprio na cidade, mas que seja conhecido e com acesso fácil a tudo”, pontua.

Com VGV de R$ 150 milhões e entrega prevista para 2026, o Prado Paulista terá paisagismo de Luís Carlos Orsini (autor dos jardins do Museu de Inhotim, em Minas Gerais), projeto de interiores do escritório franco-brasileiro Triptyque e concepção do Ide Studio Arquitetura.

“Nosso cliente valoriza esses aspectos do projeto e buscam um lugar para morar com ambientes similares àqueles que costuma frequentar, como galerias de arte e lojas de luxo”,diz Pompeo.

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